segunda-feira, 22 de julho de 2013

Me desculpe...


Nesta floresta de encantos eu senti você,
Tua presença tão forte como em cada amanhecer,
Cada anoitecer com teu olhar no meu ombro...

Senti teu canto me beijando
Tua voz me acalmando
Carregada pelo vento de tua mãe
Vindo do mar de todos nós...

Vi nas estrelas a angústia da tua falta
Soturna noite,
...Breu em alta

As lágrimas que não deixei cair
Ao pensar no teu pesadelo,
No meu pesadelo das noites em rodeio

Meu coração apenas grita a angústia de não estar lá.

Me Desculpe não ter estado lá.
Me Perdoe por não ter te conhecido...
Me Desculpe por não ter te protegido quando você tanto precisava
Me perdoe por meus caminhos tortos e sem sentido
Sou apenas um errante, filho das pedras que rolam sem rumo.
Sem saber onde foi um dia meu cume.

Peço perdão pelos relógios que não batem,
Pelos caminhos que se trancam,
 Pelos atrasos do acaso...

Preciso da desculpa da culpa de não te abraçar essa noite,
Perdão pelas poesias que não publiquei, nem te mostrei, nem esbocei.
Mas se não perdoares este bêbado porta por faltar até consigo mesmo,
Saiba que se escrevo é só por você.

Sei que meus contos são angustiados e eufóricos, tristes e felizes, fortes, as vezes cruéis...
Mas entenda, quando a vida não foi, conosco, assim?
Escrevo o que vejo, um pouco do que sinto e muito do que espero.
Mas tudo refletido em você. 

Me perdoe por fazer de você minha fonte de esperanças, vida, livros... Inspiração.
Me perdoe por precisar tanto ir para longe, por tantas vezes, e tomar tantos caminhos sozinho,
Mas é um modo de encontrar você
Esperar que você encontre a mim, na saudade de uma noite fria no colo de seu travesseiro quente.

Perdoe esse bufão-boêmio que desta vida só quer teu amor,
Um pouco de calor,
Aventuras com certo risco
E teu mais sincero sorriso.


Daniel Gaspar

domingo, 7 de julho de 2013

Cartas do tempo.

“A gente só percebe como o tempo passa quando ele... passa.”  Dizia  Velho veterano de guerra naquele canto da biblioteca, enquanto recordava suas aventuras e lutas em plena Europa destruída.  Ele dizia que aquele havia sido o melhor momento da sua vida.  Naquele instante eu não compreendia como a morte, a desolação, perda de amigos, noites e dias inteiros em combate poderiam ser as melhores partes da vida de um homem que foi tão longe quanto aquele senhor, respeitável agente de um grande banco estatal.  Ele dizia com lágrimas nos olhos a saudade que sentia do cheiro da guerra.  Pouco tempo depois da nossa conversa ele morreu e o tempo passou.

Me encontro aqui na mesma sala da biblioteca municipal, apreciando os livros que escrevi e pensando em todas as histórias que não contei...  Mais ainda, recordando as aventuras que vivi, e martirizando as que me impedir de ter.  Trago hoje, em minhas mãos, um maço de cartas antigas, todas assinadas e seladas, porem nunca enviadas... Motivo? Medo de meus próprios sentimentos..  Porém , como pode um escritor como eu ter medo de seus próprios sentimentos?  Talvez a inconstância deles deva ser uma das razões.  Não esqueço o sorriso da  menina que um dia fiz chorar por conta do meu eu perturbado, um eu que ama e não aceita a condição humana do passageiro, afinal o tempo passa...

Escrevi minha vida toda sobre personagens míticos, assassinos, aventureiros, e brinquei com os sentimentos deles para assim, brincar com os de meus leitores.  Mas eu nunca enviei estas cartas...


A velhice chegou, e muitos dos endereçados já nem estão mais vivos... Amigos, amantes, pessoas que poderiam ser tudo na minha vida, mas apenas deixei passar pelo medo de passar.  Hoje entendo aquele velho combatente, entendo o porque ele sorria tanto em cada verso de sua poética memória sobre a grande guerra.  Pois ele aproveitou cada pessoa como se fosse seu último instante, viveu livre para amar e ser amado, odiar e ser odiado, tão difenrente de mim na estabilidade de minha cadeira de balanço...  A proximidade da morte o fez entender aos 20 anos o que eu só fui perceber enquanto acendia meu cachimbo hoje, aos 76 anos...  Passei minha mão em minha careca, senti minhas rugas, marcas que não pensei que viriam e que não me perdoaram.  Reli, então, cada uma dessas cartas e sofri a cada linha que faria alguém sorrir.  Meu mais belo livro, eu soluçava, ao ver que eu nunca publiquei.   Mas o tempo passou...